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Mostrando postagens de abril, 2019

Uma espécie de Deus

Senti a vontade de voltar Mas não dá para ficar aqui, no pra sempre Sou do caminhar, do viajar Não me importo de ir pra trás ou pra frente Mas me incomodo de não ir e ficar a esmo Na tragédia que é arte da elite ou na comédia que é a arte da plebe Pois todos mascaramos ter o que não temos Somos cordeiros em pele de lobo e somos coiotes em pele de lebre Só quem nos conhece de verdade é uma espécie de Deus O seu, o meu e até o do ateu Só quem nos conhece de verdade é uma espécie de Deus O judeu, o Romeu, o que sofreu Senti vontade de voltar Dar alguns passos para trás para pegar um impulso Pular como se fosse voar Ouvir o discurso e não me incomodar com o insulto Mas se me acomodo, é na poltrona da viagem Fecho os olhos, ligo os fones e esvazio tudo o que há na mente Não presto atenção na melodia ou na mensagem Às vezes olho pela janela, pra paisagem e encosto calmamente Só quem nos conhece de verdade é uma espécie de Deus O que prometeu, reergueu e renasceu Só

O Terminal

Reservar o tempo Ouvir o mar Se guiar ao vento Sentir, amar Viver todas as vidas Todas intensas e de uma vez só Chorar as despedidas Derrubar um castelo de dominó Reservar o tempo Sentir a chuva Correr sem freio Sumir na curva Viver todas as vidas Todas imensas e sem dó Chorar as despedidas Gritar até ficar sem voz Como faz pra ser feliz, vida? Mais uma vez em um estado Terminal Vendo todas as idas e vindas Vinte e quatro horas num saguão oval As luzes hoje não se apagam mais Mas é tão escuro não dormir Onde o silencio não mais traz paz E é tão barulhento não ouvir Cabisbaixo, sozinho e distraído Quantas vezes vencido, quantas outras traído? O mar seca disfarçado no sorriso Estufo o peito improviso e finjo ainda ter juízo Desisti daquela velha ideia de mudar e me mudei Desamassei o papel de onde saiu, redobrei e voei

O Universo e o Rascunho da Realidade

Como é que você encara tudo que se perde? Sua luta só é cara quando você se vende Às vezes é o karma que muitos não entendem Orações frente à velas que se ascendem E pra ascender é preciso aprender Mas vai voltar, vai passar por lá mais algumas vezes Vai tentar omitir, varrer e esquecer Vai se calar, se colocar no lugar mais algumas vezes Contar até dez, fechar os olhos e respirar Internar, inspirar, tentar meditar, se editar E se abrimos o peito, é pro coração ficar mais leve Mas às vezes abrimos em hora errada, de energia carregada E se abrimos o sorriso, é para emanar o que é livre Mas às vezes abrimos em hora errada, de energia renunciada E percebemos estar no mesmo teto e nas mesmas paredes De quem não pisa num mesmo chão E percebemos observar o mesmo horizonte, da mesma rede De quem não recebe a mesma benção E isso é triste, ao triste e a quem o observa Sentimentos como cordas de nylon no escuro que não reverbera Sofrimentos mútuos que a empatia prolifera

Quando bate e é insônia

Frases de uma má fase Por que a gente precisa se lembrar de celebrar? Catarse de uma má base Por que a gente tenta disfarçar ao desperdiçar? Entre o dispensar e o dispersar No sorrir e no chorar ao descansar Entre o desenfrear e seu desfear Repintar, imaginar e deixar deslizar Mas os traços são necessários E não apenas imaginários São técnicas para os cenários A destreza de um operário Ainda assim, se a beleza está nos olhos de quem vê Quais pinturas te penetram ou quais flechas que te acertam? Ainda assim, se a beleza está na alma de quem sente Quais são as notas que te tocam e quais vozes te infectam? Quais ventos arrepiam a sua pele? E quais são as mãos que te erguem? Ainda assim frases de uma má fase Ainda assim que case ou quais crases Ainda assim desvale ou se descalse Ainda assim sem timing, sem charme Ainda assim aqui, bancando o poeta...

Recostura

Há quem se faz acreditar Que o outro é a causa do mal Só para não se culpar E dizer que é pelo ideal Somos peões entre campeões Guiados pelo destino formal Somos cópias de bordões Reflexões de um comercial Há quem se faz acreditar Que defende o tradicional Só para não se curvar A ideias vindas na diagonal Somos peças ao que nos impeça De continuar na espiral Somos a linha que se atravessa Costura do próprio material Se reconstrua sua escultura Sua ternura te mensura São aberturas e fechaduras São rachaduras e curas