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Mostrando postagens de 2019

Quadro clínico, parto cíclico

Tem uma hora que a gente cansa de levantar bandeira branca Tem momentos em que paramos para analisar atitudes fúteis Tem dias em que as energias são sugadas e a mente se tranca Tem noites que você sente que seu estomago levou um chute Pesadelos intensos em uma escuridão passada em claro Dos que tentam sonhar acordados durante toda a tarde Já fracos, a anemia de quem costuma despertar cansado De onde vem força ao doce amargo de quem não sabe Quando a mente está frágil às vozes internas Imagina então o quão fraca ela pode estar para as externas Somos responsáveis e precisamos ser lanternas A luz no fim do túnel ou o caminho que liberta da caverna Só que somos tanto fonte de luz quanto de escuridão Somos uma espécie de trilha sonora Somos frutos de pensamentos em silencio ou canção Somos o ontem, refletidos no agora E de certa forma incertos, insetos parasitas de afeto E de mera reforma, repletos de méritos e deméritos Temos que nos preocupar com o que dizemos aos o

Comum

Sem palavras pra expressar o que é Sem ter travesseiros para gritar Sem espadas para impor a minha fé Sem escadas, sem chão, sem ar Tudo parece tão pequeno Tudo parece tão imenso aqui dentro Tudo aparece, quero silencio Tudo aparece, quero sumir no sereno E queria estar sereno na verdade Mas o ódio de tudo me invade E até preferia quando era saudade Mas é tudo, o cinza da cidade Eu gosto da noite e das luzes distantes Estrelas no chão que vão se apagando aos poucos E eu gosto de me sentir mero figurante Das histórias que eu crio e de o todo papo de louco Mas com o tempo eu fui parando de criar E algo foi se perdendo em meus sonhos Então me perdi no que deixei de me tornar E mesmo assim eu continuo compondo Talvez são músicas que se perderam com o tempo Sem melodias, apenas as cicatrizes e os remendos

Luthier

Reafina e desempena Reconstrói, alinha e arruma Troca o que não presta Limpa os detalhe e reajusta Reafirma o que foi belo Embeleza o que não tinha mais valor Desempoeira o singelo Empodera no desflagelo do se impor As notas em seu timbre Os tons em seu selo Deixa de ser o simples Recebe o aconchego Mais zelo ao velho Mais belo do que o novo Mais apelo e afeto Mais tudo do que o todo Mas meu tudo Que foi renovado por um luthier Interno, fundo Externo o som com louvor, prazer E é nessas horas Que a minha poesia se renova Dessimetria, bordas Em curvas certas e retas tortas Minha voz nem mais se importa E apenas deixa a minha toada exposta Em mil perguntas sem respostas E uma vitória que veio de mil derrotas A madeira de tão lustrada, parece até mais verde agora Mas é veterana, não decrepita ou antiquada, é a Aurora

Abstrato em degradês de Cinza

Já foi quase morte como se a gente não tivesse vivido ou nem tivesse nascido Já foi pior, mas a gente reclama como se nunca tivesse aprendido Já foi sofrido e muitas vezes eu estive arrependido ou imerso em puro declinio E até o suicidio já foi nutrido no momento que me senti excluído Mas hoje vejo que a beleza é nada mais do que míope Tudo parece perfeito e tudo parece bem simples de longe Sei que todo sorriso tem seu preço, tem o seu requinte Em penalidade de alto custo a quem resiste ou se esconde Nós tememos a morte e até a sorte que temos E por isso nós sofremos, por isso nós nos arrependemos Mas é só com o tempo que vamos aprendendo Que é sempre mais de mesmo, é sempre um dia a menos É saber dar valor É fazer, dar sabor É caber no favor É trazer, ser calor É só observar a nossa volta para perceber que a realidade é cruel Que tem gente que está mais na merda do que você ou eu Não consigo acreditar na tal Palavra, eu nem sei se existe um céu Não consigo enten

E eu (Libriano nato)

Obrigado vida Por toda loucura imposta Obrigado vida Por todos jogos e apostas Pode ser que quem impõe toda sua verdade Esteja de certo modo, vivendo alguma mentira Pode ser que todo esse medo da intensidade Venha de derrotas, de quedas, mas o jogo vira E eu estou de volta à ativa, de volta à pista Bem melhor do que ficar remoendo paixões antigas Transformando em cicatriz todas as feridas No recomeço da partida, onde acontecer foi a saída E eu que nunca voltei atrás na palavra tive a minha primeira vez Assumi que preciso de você E eu que de tanto orgulho em minha lua, libriano nato do talvez Entendi que preciso de você

Abalo sísmico

O nós na garganta agora transita entre o meu peito e meus pensamentos É que de tempos em tempos eu desabo em meus desabafos mentais E o pior é que eu nem sei se sou uma boa pessoa para me dar conselhos Me disfarço em passos dados e a respiração aparentemente em paz Mas eu me deito junto a demência emocional, como se fosse a primeira vez Como se nunca tivesse aprendido e tudo fosse um imenso ciclo obrigatório a ser repetido Percebo que a inteligência fica para uma visão mais externa, cheia de solidez Só que na real é a mais pura palidez, no claro, sentada de frente a uma janela, sem sentido Passam os dias e eu apenas busco a salvação desta angustia calada O olhar avoado, as mãos soltas como se tivesse recebendo soro em um consultório Passam nuvens e passam estrelas no reflexo de uma tela desligada O coração apertado, a coluna levemente torta de sentimento apático, pouco notório É essa confusão de saber que preciso de ajuda, mas espero que ninguém me note É como se fosse

Quarto Escuro

Calado, mas totalmente focado em nada O olhar distante e completamente perdido E eu nem queria sair da cama, da coberta Virei pro lado algumas vezes já desiludido Mas foi de bruços que eu encontrei o torcicolo E minha mente estava tão cheia que não me deixava descansar Procurei o que fazer e não tinha, era monótono Mas é claro, às três da madrugada talvez seja a hora de sonhar Então apaguei as luzes à espera da melatonina É... mas a busca pela reciprocidade não desaparecia Os olhos abriam mais no escuro, era melancolia Talvez eu espere demais de quem nem é companhia Mas não desisto e quando desistem, eu fico aqui Remoendo, revendo passos, relendo mensagens e revirando gavetas Procurando saber onde errei, o que fiz e não fiz É meio que vazio, uma lacuna insuportável e totalmente turbulenta Abraço os joelhos e me encolho Me recolho em preces para que o sono venha A cama gira como um Universo Cheio de grades e algemas... Sem almas, apenas um quarto escuro!

Simples aconchego

Era tão simples andar Era tão simples sorrir Era tão simples lutar Era tão simples seguir Em meio a tanta simplicidade Eu encontrei a turbulência Chuvas, cortes, dificuldades E a mais forte seca Em meio a tanta intensidade Eu procurei minha resistência Ao longe, as luzes da cidade Num quadro sem estrelas Em meio a tanta felicidade Eu resetei minha carência Somei defeitos e qualidades Perdi a paciência E em meio a tanto nada Era tão simples tudo Em meio a tantas palavras Eu me fiz de surdo E quanto mais o tempo passa, eu acolho a certeza E quanto mais a carne falha, eu hospedo a profundeza E quanto mais o ar me falta, fica claro a correnteza Enquanto a melancolia cala, eu superestimo toda frieza (...) Eu sou a simples saída de quem não quer mais estar aqui De quem não quer mais sofrer, não quer mais sentir (...) Não quer mais sentir!

Espertino cansaço, vespertino embaraço

Aos poucos vamos dando adeus a nossa essência Vamos deixando de lado a inocência Onde a convivência com o Universo traz carência No que adquirimos com a experiência Seres de ansiedade e pouca paciência Um convívio distante, mas tão próximo em abstinência Que para viver precisam de resistência E para acreditar não precisam comprovação ou ciência Criam o bom e o mau com veemência E tratam como tratariam anjos e demônios em demência Se abastecem de repúdios e preferências Isso com a mera aparência, raramente com a convivência Reles mortais em decadência Não percebem o tempo se esgotando em obediência E todo adeus não teve suficiência O seu Deus não perdoará sua petulância e insolência Os trovões de uma chuva em providência Alagam as ruas em lágrimas cheias de consistência Mas a Terra se acalma em breve sonolência Nada do que você fez valeu a pena ter tal excelência Acorde desse seu pesadelo de frequências Ou descanse como reverência E apesar da insônia, prove a

Semideuses

Quando agradecer por mais um dia ou por estar vivo? O eu contra si mesmo é sua derrota em definitivo Onde está o lado positivo de um pensamento negativo? Seu sonho contra os pés no chão ao que é relativo Não faz sentido, eu não quero ser responsável por aquilo que cativo Sei que para ambos ser objetivo é ser opressivo e às vezes somos isso Tento ser compreensivo entre o que é substantivo e o que é subjetivo E tento decodificar, pois nós somos sucessivos e raramente sensitivos Na evolução dos ciclos que são repetidos A dor é multiplicada em gritos reprimidos No quarto interno de espelhos reflexivos Os nossos quadros que não são revertidos São raros momentos de felicidade ou os dias divertidos São raros os que se encontram, são muitos os perdidos No peso de uma mensagem leve, que leva o destemido Traz a calma em um tom aparentemente agressivo, mas inofensivo Todos os erros são corrigidos e todo perdão concebido Em uma oração, a sua energia que é liberada de modo comp

Meu anjo, a vida passa num segundo

Já pensou em dizer aos outros tudo o que queria ouvir? Entre o raso e o alvo, um disfarce de mero razoável Ou o porque o karma te trouxe o que não queria sentir? Entre apavorados e bravos, abaixo do zero agradável E o que é pior, você já teve essa sabedoria antes Talvez na inocência do medo, desbravar o desconhecido E se a mera coragem tenha te tornado arrogante Talvez na irreverência, o segredo do sarcasmo oferecido Tudo o que vai, volta ou é anulado Mas o golpe que você deseja devolver precisa ser sacramentado E assim cicatrizado ou até enterrado Pois sei que é difícil não devolver quando vem de todos os lados Vivemos em uma sociedade de solitários Dos que sorriem para não serem os contrariados Vivemos em uma empresa de estagiários Em que está nas redes, a força dos acovardados Além disso tudo, que já é muito confuso Vivemos no dilema da demência deveras paixões Onde damas e cavalheiros só tem escudos Por razões de vários arrastões, vulgo - Turbilhões E... O

Dezenove

Não temos um GPS aos nossos sonhos Não sabemos o melhor caminho pra chegar lá Não nascemos predestinados ou prontos Não seguimos um padrão social nem familiar Somos todos inconstantes e sem regras Somos uma nova sociedade de ovelhas negras Somos religiosos sem precisar de capelas Somos livres de apegos, mas presos à entregas Quando o silencio chega Percebemos que não temos controle das coisas Quando um de nós tenta Percebemos que dependemos de todas as outras O imperfeito cotidiano de tudo isso O vazio é algo que cresce e não pode ser preenchido O segredo é apenas usar o raciocínio O manifesto é a frustração e o fascínio pelo domínio Mas somos partes de um dominó Prestes a cair e derrubar a próxima peça Mas somos um silencio sem voz Cheios de verdades, anseios e promessas Quem se interessa? Quem se estressa? Quem se interpreta? Quem se expressa? Envolto de questionamentos, às vezes eu demoro pra dormir Desenvolvo meus pensamento e normalmente chego a sumi

Inóspitos Morais

O atual mundo dos editados Tão perfeitos socialmente Choram em seus quadrados E nas bolhas, sorridentes O que realmente é o bom senso? Quem criou o criador? Ou quem liga para o que penso? Se importa se eu supor? Sinceridade, não vou me impor Pois odeio as verdades E sou de essência questionador Sou por inteiro, metade Precisamos ouvir as opiniões E citar as nossas Precisamos declamar sermões Ou recitar prosas Ajoelhar no grão de milho E disciplinar os cachorros Bater para educar um filho Quem é que pede socorro? A verdade do certo ou errado Vem de toda sua vivencia A fúria na moral do revoltado Faz parte das experiências Em dias que a mentira chega baseada em fatos reais Com a velocidade em que notícia voa Às vezes peço para que os astros me mandem sinais Pois está difícil acreditar nas pessoas E nós ainda julgamos, mas também somos julgados Os laços são amarrados e raramente são conjugados

Entre a Insônia e o Insano

Esquece tudo o que pensou Esquece tudo o que passou Esquece o que aconteceu Esquece e finge que nada sou Não, não dá pra esquecer Posso até continuar Vou seguir e me reerguer Mesmo a sangrar Tudo bem eu te entendo Respeito esse sentimento Espero apertar a sua mão E continuar minha oração Eu fico com minha trindade Eu, meu anjo e meu demônio De frente pra minha saudade Superando esse desconforto Jogamos os dados e andamos algumas casas Voltamos outras e qual é a linha de chegada Será que é morrer e deixar os prêmios Será que é viver cada um desses momentos? Às vezes converso a sós Como se tivesse um nós Só para deixar minha voz Entre o calmo e o feroz Eu fico com minha trindade Eu, meu anjo e meu demônio De frente pra minha saudade Superando esse desconforto

Sobre Sons

Ouço o canto do pássaro Enjaulado e sem ambição E se eu quiser libertá-lo Estarei fazendo em vão Outros pássaros pousam Ao lado de sua gaiola Observam sem entender Depois vão-se embora Ouço o som dos carros Em buzinas a transitar Mais alguns enjaulados Com medo de se atrasar Outros passam por suas janelas E também não estão livres Caminho entre prédios e favelas Coragem do cinza ao grafite E a minha esperança É de sermos abduzidos Levados como crianças Ao mundo dos sorrisos Ouço o canto dos pássaros De alguma cidade distante De um céu bem estrelado Imune ao que é incessante Independente do que aconteceu ontem Eu sou o que enfrento, sou o meu agora Sou também indiferente ao que contem Do que não vem de dentro, vem de fora O Presente acaba tendo dois significados Um é o agora e o outro a lembrança Assim como cada acorde e seu enunciado Entre um sonho e uma desesperança O som pode te cegar ou te fazer pensar Depende muito do que estás a procurar

Semoto

Por fora alguns choram e outros sorriem E eu, só preciso de um momento aqui dentro Por fora alguns erguem e outros reprimem E eu preciso de mim neste instante ao vento Observar as estrelas como se estivesse num interior Ouvir o som das coisas que deixamos de apreciar Cantar com as almas que foram a um plano superior E dançar com os espíritos que vêm me aconselhar Por fora alguns demonstram força e outros demonstram fraqueza E eu, só preciso de um momento para lastrear todos os meus sentimentos Por fora alguns demonstram auxílio e outros demonstram frieza E eu, às vezes só quero estar de fora aclimatizando meus temperamentos É difícil estar sempre bem e como eu sou muito transparente Esses dias distantes foram porque não consegui estar presente

Aquela

Não sei o que você algum dia viu em mim Não sei se o que sentimos foi real Não sei o que tive na cabeça, deixar partir Não sei, mas sei que teve um final E hoje, em meio a fumaças leves Acompanhadas de um bom vinho Tão confusas na fusão de um jazz As velhas memórias que vão vindo Escolhas foram feitas e ainda estou escolhendo Deve ser a maldição de um libriano As lições foram dadas, eu continuo aprendendo E o peito continua desequilibrando Por mais que a cabeça adore voar Os pés ainda me seguram e me prendem ao chão Por mais que pareça doce relembrar Esse passado não deixa de ser uma mera invenção E ficar preso a esse pretérito, silencia Pois o silencio nem sempre é uma boa companhia E a convivência com a solidão, distancia Então me torno detento de devaneios e fantasias Às vezes ainda quero voar Às vezes ainda quero sangrar Às vezes ainda quero Às vezes, ainda quero...

Viciei

Algum som pra se aproximar Alguém só pra se apaixonar Não trago muito, só te trago bobagem Viajei... As modulações de sua voz O timbre da sua gargalhada O sorriso bobo e um olhar de paisagem Viciei... Viciei, viajei, viciei!

Um Olhar

Um olhar de quem te odeia Pode ser mais penetrante do que o olhar de quem te ama Um olhar a quem te rodeia Nas horas em que o frio toma conta e ninguém te chama Esfria mais ainda, mas... Amanheceu e esquece a Utopia A selva é de concreto e a cidade é cinza Só não deixe de agradecer, afinal, é mais um dia Quem somos nós nesse tutorial enigmático? Deixamos os rastros e pistas para que alguém invista Ou até aonde vai aquele seu olhar simpático? Sobre os afazeres, listas e um - Pegue a roupa se vista Conversas entre um devoto da Santa Paciência Com um devoto da Santa Ignorância Conversas entre seu surto cético e sua inocência Joelhos ralados, pés sujos, elegância Um olhar de quem te ama Pode te salvar se você souber deixar Um olhar ascende a chama Se você souber deixar queimar, ao ar Algumas linhas nos conectam Mas algumas agulhas nos infectam Algumas cicatrizes se fecham E algumas rachaduras se internam Alguns nós ligam todo o desespero e a desesperança E en

Último Vagão (parte 2)

Ninguém escolhe o mesmo caminho Nem sempre há abraços e sorrisos Você percebe não estar sozinho Ao domesticar seu próprio Narciso Somos os nossos próprios mitos Heróis no próprio quadrinho Às vezes paro, penso e reflito Que o preço do poder é perder o juízo Muito mais que um mero clichê de echarpes e pantufas A camisa mais velha que você deixa ela usar Muito mais que um presente bobo de bombons e trufas Um café na montanha sem histórias pra contar Chegamos tão longe e não foi por coincidência Pois nós rezamos tão forte, que foi por paciência Admiro aquele amigo que não tem medo de voar Que não tem medo de deixar a maré levar Amar é saber levar contigo o sentimento do libertar Do Universo tão interno, o labirinto do sonhar Somos cria de um criador que também cria a dor pra ensinar Do último vagão ela partiu sem se que me dar adeus Foi um olhar, um calafrio, a lacuna de um abraço seu Somos cria de um criador que também cria a dor pra ensinar

Garças

Não vejo fogo de incêndio, só fumaça Muitos reclamando da desgraça Sem ver a graça que recebem de graça Enquanto eles invejam as farsas Observam os sorrisos nas praças E não enxergam a realidade dos próprios parças Se envolvem nas culturas de massa Sem perceber que tudo passa e se torna carcaça Somos todos escudos, elmos e couraças Que enferrujam, deterioram, estragam e viram traça Mas a gente sangra, chora e levanta a taça E onde poucos enxergam a estrada que o outro traça É que nos levantamos e veementemente mostramos ter raça Protegemos aquela nossa parte que é de vidraça E... nos tornando mais fortes do que aquilo que nos ameaça Defendendo nossa honra e deixando de ser caça Sem virar caçador, simplesmente livres Mostrando as asas, somos Garças felizes

O espelho da alma e suas dimensões

O espelho da alma e suas dimensões Um interno tão externo do tamanho do Universo O segredo de máscaras, imperfeições Limites na liberdade, morrer e continuar Eterno Há prisão e sabedoria em suas memórias Onde escolhemos continuar, trilhar trajetórias Há prisão e sabedoria em suas histórias Onde há derrotas, vitórias, fracassos e glórias Montanha das aparições Alameda das falhas Pântano das lamentações Castelo de fantasmas Mil Universos de vagos mundos Vórtice de objetos perdidos Tempo-espaço do vácuo profundo Buraco negro nos sorrisos Uma escadaria dos réus O palácio das injustiças Entre o inferno e o céu Líderes de suas cobiças Nós questionamos sobre os reais valores Precificamos quase tudo O que está entre o consumo e os amores É apenas desse segundo E não nosso... O espelho da alma e suas dimensões Onde o inferno se acalma, te priva de razões O espelho da alma e suas dimensões Onde o inverno se acaba, esquenta corações

Uma espécie de Deus

Senti a vontade de voltar Mas não dá para ficar aqui, no pra sempre Sou do caminhar, do viajar Não me importo de ir pra trás ou pra frente Mas me incomodo de não ir e ficar a esmo Na tragédia que é arte da elite ou na comédia que é a arte da plebe Pois todos mascaramos ter o que não temos Somos cordeiros em pele de lobo e somos coiotes em pele de lebre Só quem nos conhece de verdade é uma espécie de Deus O seu, o meu e até o do ateu Só quem nos conhece de verdade é uma espécie de Deus O judeu, o Romeu, o que sofreu Senti vontade de voltar Dar alguns passos para trás para pegar um impulso Pular como se fosse voar Ouvir o discurso e não me incomodar com o insulto Mas se me acomodo, é na poltrona da viagem Fecho os olhos, ligo os fones e esvazio tudo o que há na mente Não presto atenção na melodia ou na mensagem Às vezes olho pela janela, pra paisagem e encosto calmamente Só quem nos conhece de verdade é uma espécie de Deus O que prometeu, reergueu e renasceu Só

O Terminal

Reservar o tempo Ouvir o mar Se guiar ao vento Sentir, amar Viver todas as vidas Todas intensas e de uma vez só Chorar as despedidas Derrubar um castelo de dominó Reservar o tempo Sentir a chuva Correr sem freio Sumir na curva Viver todas as vidas Todas imensas e sem dó Chorar as despedidas Gritar até ficar sem voz Como faz pra ser feliz, vida? Mais uma vez em um estado Terminal Vendo todas as idas e vindas Vinte e quatro horas num saguão oval As luzes hoje não se apagam mais Mas é tão escuro não dormir Onde o silencio não mais traz paz E é tão barulhento não ouvir Cabisbaixo, sozinho e distraído Quantas vezes vencido, quantas outras traído? O mar seca disfarçado no sorriso Estufo o peito improviso e finjo ainda ter juízo Desisti daquela velha ideia de mudar e me mudei Desamassei o papel de onde saiu, redobrei e voei

O Universo e o Rascunho da Realidade

Como é que você encara tudo que se perde? Sua luta só é cara quando você se vende Às vezes é o karma que muitos não entendem Orações frente à velas que se ascendem E pra ascender é preciso aprender Mas vai voltar, vai passar por lá mais algumas vezes Vai tentar omitir, varrer e esquecer Vai se calar, se colocar no lugar mais algumas vezes Contar até dez, fechar os olhos e respirar Internar, inspirar, tentar meditar, se editar E se abrimos o peito, é pro coração ficar mais leve Mas às vezes abrimos em hora errada, de energia carregada E se abrimos o sorriso, é para emanar o que é livre Mas às vezes abrimos em hora errada, de energia renunciada E percebemos estar no mesmo teto e nas mesmas paredes De quem não pisa num mesmo chão E percebemos observar o mesmo horizonte, da mesma rede De quem não recebe a mesma benção E isso é triste, ao triste e a quem o observa Sentimentos como cordas de nylon no escuro que não reverbera Sofrimentos mútuos que a empatia prolifera

Quando bate e é insônia

Frases de uma má fase Por que a gente precisa se lembrar de celebrar? Catarse de uma má base Por que a gente tenta disfarçar ao desperdiçar? Entre o dispensar e o dispersar No sorrir e no chorar ao descansar Entre o desenfrear e seu desfear Repintar, imaginar e deixar deslizar Mas os traços são necessários E não apenas imaginários São técnicas para os cenários A destreza de um operário Ainda assim, se a beleza está nos olhos de quem vê Quais pinturas te penetram ou quais flechas que te acertam? Ainda assim, se a beleza está na alma de quem sente Quais são as notas que te tocam e quais vozes te infectam? Quais ventos arrepiam a sua pele? E quais são as mãos que te erguem? Ainda assim frases de uma má fase Ainda assim que case ou quais crases Ainda assim desvale ou se descalse Ainda assim sem timing, sem charme Ainda assim aqui, bancando o poeta...

Recostura

Há quem se faz acreditar Que o outro é a causa do mal Só para não se culpar E dizer que é pelo ideal Somos peões entre campeões Guiados pelo destino formal Somos cópias de bordões Reflexões de um comercial Há quem se faz acreditar Que defende o tradicional Só para não se curvar A ideias vindas na diagonal Somos peças ao que nos impeça De continuar na espiral Somos a linha que se atravessa Costura do próprio material Se reconstrua sua escultura Sua ternura te mensura São aberturas e fechaduras São rachaduras e curas

Uma luz abaixo da Lua

Alguém me disse que parecia Jorge Ben Mas era um menino que tocava em sarau Alguns diziam - Isso não vai pra frente Mas ele não ouvia, só ouvia seu coração Na estrada se perde, se ganha e vai Já não era um menino no adeus a seu pai Tinha suas guerras, mas só queria paz Tem a fé no destino que todo dia se refaz Se em toda turbulência você morresse Se em toda escuridão desaparecesse Se ao olhar as estrelas eu virasse um foguete Eu te traria vários presentes

O eu mais velho, distópico e Lo-fi

Criogenia no peito E a mente focada no que se diz respeito ao valor Eu deixo pra trás o que não me traz paz Independente do amor Apagar memórias É um presente do tempo e às vezes é até um favor Coloco na frente o que tenho em mente Limpando toda poeira e bolor O meu sorriso e meus abraços verdadeiros São as únicas coisas que peço de volta Com a mesma sinergia, intensidade e apreço Preces aos anjos que nos fazem escolta Eu quero o seu bem E te quero meu bem Sei o preço da liberdade e não crio gaiolas Deixo todas as portas e as janelas abertas aos que vão e voltam Mas sei que sou cárcere de minhas escolhas E eu sei que assim que as decisões são tomadas, elas não voltam Sou o herói e o culpado de meus destinos E por eles estou chorando, estou sorrindo Ouvi o concelho de um senhor que dizia Meu filho, ser você mesmo é tudo o que você pode ser E ouvi várias histórias naquela noite fria Viajei e voltei nessas palavras, nada me fazia esquecer Somos as chuvas, tr

Distemporal

Tantas coisas eu deixei pra trás Tantas que não vou voltar a ver Tantas que eu nem quero mais E tantas eu tentei esquecer Os bares que já foram um abrigo Aos pares e seus belos sorrisos Nossos lugares, aos pés d'ouvido Frases vulgares e vários "duvidos" Tantas coisas eu deixei pra trás Tantas que não vou voltar a ver Tantas que eu nem quero mais E tantas eu tentei esquecer Os bares hoje não me fazem sentido Esses pares e seus meros sorrisos Nossos lugares num passado perdido E as frases terminam com "eu tô fodido" A força não é nada sem a fé Os passos não são nada sem uma direção Como uma limusine sem chofer Lágrimas caladas e uma ação sem reação Tanto esforço pra silenciar a mente Quando quem mais quer falar é o peito E tanto esforço pra seguir em frente Quando descansar é meu único desejo Estou onde me deixei dominar pelas leis do tempo rei Não na velhice, mas na juventude Estou onde eu descansei, me acomodei e me acovardei Não

Elos

Eu tenho muito mais medo de quem fala mal Do que daquele que é mal falado Tenho mais pena de quem estampa felicidade Do que de quem se mantém calado O frio e calculista não canta a vitória antes da hora Porém o ganancioso, explode anseios em entusiasmo Quem confunde cabeças com escadas também roda E a vida poderá até te sorrir de volta, mas é sarcasmo A autossabotagem só te leva a um lugar, à solidão E só a tua humildade te levará longe na imensidão Quando você tem medo de dar errado Pelas coisas que aconteceram em seu passado, sem florescer Você apenas terá o seu futuro enterrado No cemitério de um pântano dos que nem chegaram a nascer Onde Sonhos são anjos e pesadelos são Demônios Na trindade, somamos a Realidade entre lágrimas e sorrisos Onde os passos são anjos e tropeços são demônios Mil, dez mil cairão e depende apenas de ti para não atingido Entre os exímios e os exilados, Maquiavel e o maquiável, versos A fé que tu tens, é em um destino criado por ti ou

Remendos

Com o tempo a gente se esquece do que sabe Com o tempo a gente nem vê o quanto cabe Com o tempo a gente nem percebe que invade Com o tempo a gente nem vê que já é tarde Eu faço dos meus erros aprendizados Quando os entendo Mas pode ser que eu até erre de novo E aí, eu me remendo Só que às vezes vazo quebrado Se remenda errado E o que fica à mostra são cacos Cicatrizes e pedaços É preciso se cobrir de argila Se repintar, colocar mais água e novas flores Ao cintilar e dilatar pupilas Não se esquecer dos amores, nem das dores Se refazer, se remontar sem perder sua essência Arriscar e se reinventar em veemência Mesmo que pra isso tenha que se fazer ausência E voltar mais forte em sua resistência Entre as cinzas e o renascimento Só você sabe qual foi o tamanho do sofrimento Entre dias de luz e esquecimento Só você sabe qual foi a cura de seus ferimentos